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Por que sustentabilidade não é mais suficiente

Atualizado: 27 de set.

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Um estudo liderado por Sakschewski e Caesar do Centro de Resiliência de Estocolmo em 2025, atualiza a estrutura dos Limites Planetários e mostra que as atividades humanas fizeram com que tenhamos ultrapassado 7 de 9 limites planetários, o que aumenta o risco de desencadear colapso do equilíbrio dos sistemas planetários. Antes de apresentarmos cada um dos limites planetários, vamos falar da sua parte mais importante.


Espaço Operacional Seguro

O espaço operacional seguro da Terra é o conjunto de condições biofísicas dentro das quais a humanidade pode se desenvolver de forma estável, garantindo o bem-estar humano e a integridade dos ecossistemas.


Em outras palavras:

  • O espaço operacional seguro é como a faixa de estabilidade do planeta, que permite a civilização florescer.

  • É a “zona segura” para a humanidade: fora dela, os sistemas da Terra podem perder equilíbrio e colapsar.

  • Ele conecta ciência planetária com políticas públicas e design de sistemas, mostrando que nossas economias e culturas precisam operar dentro dos limites do planeta.


Ele é definido pelo quadro dos Limites Planetários: nove processos-chave que regulam o equilíbrio do Sistema Terra. Cada limite funciona como uma fronteira. Enquanto permanecemos dentro delas, o planeta mantém sua resiliência, habitabilidade, estabilidade e capacidade de absorver pressões humanas. Quando ultrapassamos essas fronteiras, entramos em uma zona de incerteza e risco, onde aumentam as chances de mudanças abruptas e irreversíveis no clima, na biodiversidade e nos sistemas de suporte à vida.


Johan Rockström, um dos criadores do conceito, resume assim:

“Os limites planetários definem o espaço dentro do qual a humanidade pode continuar a se desenvolver e prosperar por gerações futuras.”

A humanidade sobreviveu de forma muito rudimentar em um planeta com clima mais severo, era principalmente caçadores coletores, viviam em cavernas e assim sobreviveram a duas eras glaciais, mas apenas prosperou e cresceu em um período posterior, o Holoceno. Período geológico onde a humanidade teve a seu favor a estabilidade climática, estações do ano bem definidas, enorme biodiversidade para nosso benefício através de alimentos e medicamentos.


Porém desde a invenção da agricultura a cerca de 12 mil anos atrás, e principalmente a partir da grande aceleração no crescimento e desenvolvimento gerados pelas revoluções industriais o planeta começou a dar sinais de adoecimento. No holoceno vivíamos em um planeta abundante e enorme. Hoje ultrapassados 1/4 do século XXI, vivemos em uma grande economia ultra consumista, extrativista predatória e em um planeta pequeno que se torna mais escasso a cada dia.

Tamanho da população humana e temperatura global de 500.000 anos até 2100.
Tamanho da população humana e temperatura global de 500.000 anos até 2100.

Este gráfico talvez seja o mais importante desta matéria, pois evidencia em verde o "corredor da vida" que é a temperatura média do planeta que é propicia para a vida como conhecemos. Atualmente dados apontam que já ultrapassamos +1,5 graus da temperatura média global. Previsões apontam que neste ritmo até final do século podemos chegar a +3 graus ou +4 graus, neste ritmo até final do século não teremos mais recifes de corais, que são os habitats mais biodiversos dos oceanos e nem teremos mais a floresta amazônica.


Limites Planetários

Os limites planetários foram propostos pela primeira vez em Janeiro de 2009 por um grupo de cientistas do Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático (PIK) liderados pelo Johan Rockström. Onde foi proposta uma nova abordagem para avaliar sustentabilidade global. A ciência dos limites planetários trás uma abordagem integral dos sistemas da terra, evidenciando como os limites são interdependente, desta forma é possível perceber como ultrapassar um limite pode fazer com que outros também sejam ultrapassados ou avancem em sentido de desestabilização dos sistemas planetários.


Conheça cada um dos 9 limites planetários e como eles se relacionam:

1. Mudanças Climáticas

  • O que mede: Concentração de gases de efeito estufa (especialmente CO₂, Metano, Óxido Nitroso) e balanço energético da Terra.

  • Por que importa: O clima regula a habitabilidade do planeta. Com o aumento da temperatura média global, ocorrem extremos climáticos, acidificação dos oceanos, derretimento de geleiras e elevação do nível do mar.

  • Situação atual: Já ultrapassado — risco crescente de pontos de não retorno.

  • Exemplos de relações: Está diretamente conectada com biodiversidade da flora e fauna e seus habitats, a estabilidade climática também depende dos ciclos de nutrientes naturais, ciclos de fosfato, nitrogênio e carbono.

2. Integridade da Biosfera (Biodiversidade)

  • O que mede: Taxas de extinção de espécies, integridade e diversidade genética e a integridade funcional dos ecossistemas.

  • Por que importa: A biodiversidade garante serviços ecossistêmicos como polinização, purificação da água, regulação do clima e fertilidade do solo.

  • Situação atual: Gravemente ultrapassado — vivemos a 6ª extinção em massa.

  • Exemplos de relações: E

3. Fluxos Biogeoquímicos (Nitrogênio e Fósforo)

  • O que mede: Quantidade de nitrogênio e fósforo mobilizados pela agricultura e indústrias.

  • Por que importa: Esses nutrientes sustentam a produção de alimentos, mas em excesso causam eutrofização de rios e oceanos, zonas mortas e perda de biodiversidade aquática.

  • Situação atual: Largamente ultrapassado.

  • Exemplos de relações: E

4. Mudança no Uso da Terra

  • O que mede: Conversão de florestas, savanas e outros ecossistemas naturais em áreas agrícolas, pastagens e cidades.

  • Por que importa: As florestas tropicais e boreais, por exemplo, são reguladoras do clima e grandes armazenadoras de carbono. Sua destruição ameaça o equilíbrio climático e a biodiversidade.

  • Situação atual: Ultrapassado, com destaque para o desmatamento na Amazônia que está se aproximando de um ponto sem retorno.

  • Exemplos de relações: E

5. Uso de Água Doce

  • O que mede: Extração de águas subterrâneas, rios e lagos.

  • Por que importa: A água doce é essencial para a vida e para a agricultura. O uso excessivo compromete aquíferos e reduz a resiliência de ecossistemas aquáticos.

  • Situação atual: Recente atualização (2023) mostrou que já ultrapassamos o limite em várias regiões.

  • Exemplos de relações: E

6. Acidificação dos Oceanos

  • O que mede: Redução do pH oceânico devido à absorção de CO₂.

  • Por que importa: Oceanos mais ácidos dificultam a formação de conchas e esqueletos de organismos marinhos, afetando cadeias alimentares inteiras, incluindo recifes de corais.

  • Situação atual: Acelerando, mas ainda próximo ao limite.

  • Exemplos de relações: E

7. Aerosóis Atmosféricos

  • O que mede: Concentração de partículas microscópicas (fuligem, poeira, sulfatos) suspensas no ar.

  • Por que importa: Afetam a saúde humana, alteram o clima regional e influenciam o ciclo das monções.

  • Situação atual: Difícil de quantificar globalmente, mas já crítico em regiões como a Ásia.

  • Exemplos de relações: E

8. Camada de Ozônio Estratosférico

  • O que mede: Espessura do ozônio que protege a Terra da radiação ultravioleta.

  • Por que importa: A radiação UV em excesso causa câncer de pele, afeta colheitas e ecossistemas marinhos.

  • Situação atual: Foi ultrapassado no passado, mas políticas globais (Protocolo de Montreal) vêm permitindo sua recuperação. É um exemplo positivo de ação internacional.

  • Exemplos de relações: E

9. Novas Entidades (Poluição Química)

  • O que mede: Substâncias sintéticas como plásticos, pesticidas, metais pesados e resíduos radioativos.

  • Por que importa: Muitas dessas substâncias são persistentes, tóxicas e bioacumulativas, contaminando água doce, alterando ecossistemas e ameaçando a saúde humana.

  • Situação atual: Considerado ultrapassado — especialmente pela poluição plástica global.

  • Exemplos de relações: E


Fronteiras ultrapassadas

As consequências dos limites ultrapassados não são linearmente percebidos, mas acumulados em ciclos naturais. Por mais de 50 anos estamos degradando sistemas naturais a uma taxa maior do que o planeta é capaz de se regenerar. Mas os impactos de nossas ações não foram tão logo percebidos após ações de degradação. A degradação foi acumulada, ganhando escala e modificando os sistemas regionais, continentais e planetários.


Os limites que ultrapassamos não só aumentam o risco de desencadear colapso do equilíbrio dos sistemas planetários, mas seus efeitos estão acontecendo e aumentando a frequência e intensidade de eventos climáticos extremos. Secas e enchentes históricas, tempestades mais frequentes e intensas, empobrecimento de solos, extinção em massa, imigração em massa de populações humanas e muitos outros efeitos estão sendo percebidos.

Fonte: www.munichre.com. Rápido crescimento da frequência de desastres naturais por tipo de evento nas últimas décadas é uma forma de demonstrar a não linearidade dos efeitos das mudanças geofísicas causados pela humanidade.
Fonte: www.munichre.com. Rápido crescimento da frequência de desastres naturais por tipo de evento nas últimas décadas é uma forma de demonstrar a não linearidade dos efeitos das mudanças geofísicas causados pela humanidade.

Cristthian Arpino, idealizador do movimento de Eco Indústria Modular: regeneração popular , costuma exemplificar:

"Se o mundo inteiro se tornasse hoje completamente sustentável, todos governos, empresas, sociedades e culturas, ainda assim estaríamos vivendo uma crise planetária."

Então porque as mídias, conferências mundiais da ONU, governos e grandes empresas continuam transmitindo metas insuficientes? Porque a discussão gira em torno das mudanças climáticas e crise climática se a dimensão da crise é de lideranças, valores e planetária?


Sustentabilidade como meio

A sustentabilidade significa "sustentar", mas não é uma meta adequada pois não diz o que estamos realmente a tentar sustentar. A ciência de saúde planetária demonstra que o que estamos a sustentar é a resiliência, habitabilidade e estabilidade do planeta. É a saúde planetária, dos ecossistemas e saúde dos seres vivos. Sustentabilidade deve ser encarada como parte do caminho, mas não o fim. Em outras palavras, sustentabilidade é causar o mesmo impacto positivo que o negativo, é ficar no ponto neutro. Veja novamente o gráfico da saúde planetária do relatório de saúde planetária de 2024.


A figura acima, retirada do Planetary Health Check – A Scientific Assessment of the State of the Planet, First Edition (2024), traduzida por Cristthian Marafigo Arpino, mostra que a humanidade já ultrapassou 6 de 9 limites planetários, que são processos fundamentais que mantêm a Terra em equilíbrio: clima, biosfera, poluição, uso da terra, ciclo de nutrientes e água doce. Isso significa que operamos fora do espaço seguro para a vida, colocando em risco a estabilidade do planeta e a saúde das futuras gerações. © Potsdam Institute for Climate Impact Research (PIK), Member of the Leibniz Association, 2024.
A figura acima, retirada do Planetary Health Check – A Scientific Assessment of the State of the Planet, First Edition (2024), traduzida por Cristthian Marafigo Arpino, mostra que a humanidade já ultrapassou 6 de 9 limites planetários, que são processos fundamentais que mantêm a Terra em equilíbrio: clima, biosfera, poluição, uso da terra, ciclo de nutrientes e água doce. Isso significa que operamos fora do espaço seguro para a vida, colocando em risco a estabilidade do planeta e a saúde das futuras gerações. © Potsdam Institute for Climate Impact Research (PIK), Member of the Leibniz Association, 2024.

Se hoje ficarmos no ponto neutro, estaríamos apenas estabilizando e sustentando a crise planetária, apenas evitando que ela continue gravemente avançando. O que precisamos é ir além da sustentabilidade, causar muito mais impacto positivo do que negativo. Mudar nossa cultura e educação que fala de redução de impacto, para falar sobre como podemos gerar impactos positivos.


Crise Cultural e de Valores

A crise planetária que vivemos não pode ser compreendida apenas em termos de gases de efeito estufa ou de degradação ambiental. Ela é também reflexo de uma crise cultural e de valores. A forma como sociedades modernas foram estruturadas nos afastou da percepção de que somos parte da natureza, promovendo uma cultura que valoriza o consumo, a competição predatória e o individualismo em detrimento da colaboração e da coletividade.


Esse desencontro entre nossa cultura e os ciclos naturais do planeta faz com que, mesmo diante de evidências científicas contundentes, sigamos sustentando narrativas insuficientes. Governos, empresas e até conferências globais frequentemente reduzem a crise planetária ao debate sobre carbono, definindo metas que soam ousadas, mas que apenas mantêm o colapso em estado de “estabilidade crítica”. Assim, a sustentabilidade é apresentada como fim em si mesma, quando na verdade deveria ser apenas uma etapa transitória rumo a algo maior.


Daniel Christian Wahl, em Design de Culturas Regenerativas, lembra que precisamos reconhecer nossa condição de interseres — seres em constante relação com outros seres, ecossistemas e culturas. É a partir dessa visão que podemos resgatar valores de colaboração, cuidado, respeito mútuo e responsabilidade coletiva como bases para qualquer transformação.


Regeneração: além da palavra da moda

Gráfico da versão em português do Design de Culturas Regenerativas, Bambual 2020
Gráfico da versão em português do Design de Culturas Regenerativas, Bambual 2020

O gráfico mostra a transição entre diferentes níveis de relação humana com a natureza e com os sistemas de vida. Na base, temos práticas que reduzem a vitalidade sistêmica; no topo, práticas que ampliam a vida e a resiliência.


1. Hábito Convencional

  • O que é: A forma mais comum de atuação, em que empresas, governos e pessoas agem apenas para cumprir regras mínimas, muitas vezes por “compliance” legal ou para evitar multas.

  • Exemplo: Uma indústria que instala filtros antipoluição apenas porque a lei exige, sem nenhuma preocupação real com o impacto ambiental.

  • Problema: Não gera benefícios para o planeta, apenas evita penalidades.

2. Verde

  • O que é: Melhoria relativa em comparação com práticas anteriores, mas ainda limitada. É a lógica do “menos pior”.

  • Exemplo: Reduzir o consumo de plástico descartável em 20%, ou usar lâmpadas mais eficientes sem mudar o sistema energético de base.

  • Problema: Embora importante, não resolve as causas estruturais da crise — apenas diminui um pouco os danos.

3. Sustentável

  • O que é: O ponto neutro. Significa que não se causa mais danos do que benefícios. É o equilíbrio, onde impactos negativos e positivos se anulam.

  • Exemplo: Uma empresa que compensa todas as suas emissões de carbono por meio de reflorestamento.

  • Problema: Mesmo sendo avanço em relação ao “verde”, ainda mantém a lógica de “não piorar”, mas não cria vitalidade nova. Sustenta, mas não regenera.

4. Restaurativo

  • O que é: Aqui já há um salto qualitativo. Os humanos começam a fazer coisas para a natureza, corrigindo danos causados.

  • Exemplo: Programas de restauração florestal, recuperação de solos degradados, limpeza de rios poluídos.

  • Valor: Inicia-se um movimento de devolver algo ao planeta, mas ainda como resposta ao que foi destruído.

5. Reconciliatório

  • O que é: O ser humano se reconhece novamente como parte integral da natureza e não como entidade separada.

  • Exemplo: Projetos urbanos de biofilia, integração de culturas tradicionais com ciência moderna, práticas agroecológicas que reintegram comunidades e ecossistemas.

  • Valor: Mais do que restaurar, busca-se reintegrar relações e curar a desconexão cultural com a natureza.

6. Regenerativo

  • O que é: O estágio mais elevado, onde a atuação humana é vista como parte de sistemas vivos, participando corretamente do fluxo de energia e de vida. Aqui, design e cultura funcionam como a própria natureza.

  • Exemplo:

    • Agricultura sintrópica, que aumenta biodiversidade e fertilidade ao longo do tempo.

    • Indústrias net positive, que devolvem mais água limpa do que consomem e geram mais energia limpa do que usam.

    • Eco Parques Industriais Modulares, que operam em simbiose industrial e fortalecem comunidades locais.

  • Valor: Não apenas restaura, mas cria condições para que a vida floresça — é a essência da regeneração.

A estrutura de design de sistemas regenerativos nos mostra que a regeneração não é moda: é um caminho de complexidade crescente. Ele nos convida a superar o nível da sustentabilidade (neutro) e até do restaurativo (reparar), para alcançar o nível regenerativo, onde criamos culturas e economias que não apenas evitam danos, mas potencializam a vida.


A sabedoria ancestral cultivada no presente

Quando falamos de regeneração, não podemos ignorar que muitos povos originários já vivem há milênios dentro do espaço operacional seguro da Terra, cultivando relações de reciprocidade, respeito e equilíbrio com o mundo natural. O que hoje chamamos de “design regenerativo” ou “economia circular” já faz parte das cosmologias indígenas que entendem a vida como rede, como interdependência, como continuidade.


O pensador quilombola Nego Bispo nos lembra que a modernidade construiu uma narrativa de “civilização” que, na verdade, impôs colonialidade, extrativismo e monocultura de valores. Para ele, regenerar é também descolonizar os saberes, reconhecendo que existem múltiplas epistemologias e que a “ciência dos povos da floresta e do campo” precisa ser escutada de igual para igual com a ciência acadêmica. A monocultura de conhecimento leva à monocultura da vida — e o oposto também é verdadeiro: a diversidade cultural gera diversidade ecológica.


Ailton Krenak insiste que a crise atual é também uma crise de imaginação. Em Ideias para adiar o fim do mundo, ele nos convida a suspender a ilusão de que somos separados da Terra e lembra que “o humano não é a medida de todas as coisas”. Para os povos indígenas, rios, florestas e montanhas não são recursos, mas parentes. Krenak nos provoca a repensar nossa condição de humanidade:

“A Terra não nos pertence, nós é que pertencemos a ela.”

Essa sabedoria nos mostra que regeneração não é apenas técnica ou política, mas sobretudo espiritual e cultural. É reconhecer que viver bem não significa consumir mais, mas estar em harmonia com a rede de seres vivos. É trocar o paradigma do domínio pelo da participação.


Os povos indígenas e quilombolas, como guardiões de territórios e saberes ancestrais, nos ensinam que regenerar é, acima de tudo, tecer relações de interser: entre humanos, entre espécies e entre mundos. Esse é o chamado mais profundo de nossa época: escutar, aprender e caminhar junto com as culturas que nunca deixaram de viver em regeneração.


Biblioteca Aberta de Soluções Regenerativas


Nossos hábitos convencionais e a forma que vivemos no geral está reproduzindo uma lógica de destruição. Estamos comendo o planeta e transformando ele em mercadorias, que funcionam dentro de um sistema político-econômico linear cujo resultado final é o lixo, desperdício e destruição das nossas saúdes e culturas integradas à natureza.


Soluções verdes quando analisadas do ponto de vista do ciclo completo, não causam nenhum impacto positivo, apenas reduzem a destruição. Sustentabilidade, como já dito, é apenas um ponto neutro. Devemos falar, refletir, agir e redesenhar nossos sistemas visando sempre o impacto positivo.


Restauração é o ponto de partida, quando recuperamos um rio poluído, reflorestamos matas nativas, re-introduzimos espécies ameaçadas em seus habitats naturais com capacidade de viver saudáveis e se reproduzir, são apenas alguns exemplos de muitos outros possíveis para “fazermos algo para a natureza”. Mas costuma ser ações de impacto positivo isoladas e ainda carrega valores intrínsecos de que os humanos são algo separado da natureza.


É na Reconciliação que transvaloramos nossos valores e cosmovisão para novamente compreender profundamente que somos parte da natureza, voltamos a perceber o ambiente, clima, ciclos naturais, outros seres vivos que vivem em rede conosco. E nesta etapa da revolução cultural que voltamos a compreender qual pode ser nossa contribuição nos ecossistemas que vivemos. Como podemos reconciliar as cidades humanas com o ecossistema que ela está inserida? Como podemos reconciliar indústrias com ciclos naturais? Como as cidades podem contribuir para prosperidade da vida e de seres vivos? Como podemos produzir mais água potável, mais energia renovável e limpa, mais materiais ecológicos do que usamos? Como podemos reaproveitar materiais circularmente e não precisar mais extrair de estoques naturais? Como podemos trabalhar para a longo prazo reconstituir estoques naturais? Como transformamos materiais tóxicos em materiais nutritivos para tornar solos mais férteis? Podemos ainda não saber responder estas perguntas individualmente, mas com inteligência coletiva e conhecimentos transculturais sim. Soluções assim já foram feitas antes, a história da terra preta de indigena mostra que o solo mais fértil do mundo é na verdade resultado de manejo agroflorestal de milhares de anos, não só este solo, mas toda floresta amazônica é resultado de um processo milenar de agricultura sintrópica. A floresta amazônica não é uma floresta intocada, mas sim uma enorme agrofloresta pindorâmica. Precisamos reconectar processos humanos com a natureza, fechar ciclos e trabalhar como parte da natureza.


A Regeneração é o estágio mais elevado, é ecocêntrico e sistêmico, uma escala de ganha-ganha-ganha onde o impacto positivo se torna um ciclo virtuoso e humanos, como parte de sistemas vivos, fazem design como natureza e participam corretamente do fluxo de energia e de vida promovendo saúde biorregional e planetária. Regeneração não é a soma das partes, é o resultado de um processo dinâmico e complexo, uma capacidade emergente e possível graças a muitos processos e agentes. Basta olhar para nós mesmos, nosso corpo tem capacidade de regeneração celular, se nos cortamos o corpo se regenera, ecossistemas, biosfera e o planeta terra também são assim. 


Precisamos reunir a sabedoria humana e transcultural para planejar, realizar e sustentar projetos de regeneração a longo prazo. Não precisamos elaborar projetos de grande escala: geralmente projetos assim não só requerem muito recursos mas têm efeitos colaterais negativos. Precisamos promover a escuta, reflexão e planejamentos locais e regionais, promover políticas públicas para microfinanciamentos descentralizados, onde vários projetos de pequena escala para regeneração de ecossistemas e transformação sócio econômicas possam acumular reputação. Projetos de pequena escala podem servir de exemplo para outras biorregiões similares mas inevitavelmente precisam ser transformados para outras realidades. A regeneração não tem tudo haver com conhecimento livre e colaboração em larga escala. E se soluções de regeneração práticas e advindas de sabedoria popular fossem organizadas e disponibilizadas para mais pessoas? Será que uma grande biblioteca pública de soluções livres, disseminada para reprodução, adaptação e documentação de mais e mais soluções não poderia ajudar mais pessoas a mitigar, adaptar e transformar suas realidades em um cenário de ganha-ganha-ganha, onde a comunidade/sociedade ganha, a natureza ganha e a vida ganha?


Propomos a criação de uma biblioteca aberta de soluções práticas, como a wikipedia, mas para fins regenerativos e de saúde planetária. Propomos a criação de políticas públicas que garanta implementação, crescimento e sustentação desta biblioteca aberta, que garantam que o acesso a estás soluções se torne um direito humano difuso e inalienável a qualquer ser humano, para promoção de mais equidade social, onde todos independente de sua origem étnica, de gênero, sexualidade e cultural tenham acesso a estás soluções. Acreditamos que este é um caminho potente para tornarmos a cultura e conhecimento humano comum um vetor ecocêntrico para saúde biorregional e planetária.


Chamado à Regeneração Popular

Inspirados por esses saberes ancestrais e pela ciência contemporânea dos limites planetários, estamos cocriando, através da Eco Indústria Modular, um movimento de regeneração popular, transgeracional e transcultural.


Popular, porque nasce do povo e para o povo, enraizado em comunidades que atuam diretamente sobre seus territórios.Transgeracional, porque se preocupa em garantir a vida não apenas para a geração atual, mas para todas as futuras.Transcultural, porque reconhece e valoriza a diversidade de saberes, integrando ciência, ancestralidade e inovação livre.


Este é um convite: participar da regeneração não como espectadores, mas como protagonistas. A crise planetária é também oportunidade de reencontro. Regenerar é cuidar, criar e celebrar a vida em todas as suas formas.


Junte-se a nós.

🌱Porque só regenerando juntos podemos construir futuros possíveis.

Referencias:

 
 
 

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